Por Raíssa Bezerra
A situação nacional segue marcada pelo aprofundamento das crises econômica e política e uma polarização social cada vez mais intensa, uma crise alimentando a outra, com a consequente fragilização do governo Dilma. Todos os indicadores econômicos apontam para um quadro de recessão econômica em 2015 e 2016. O impacto no emprego dos trabalhadores, em particular na indústria, é cada vez maior. Aos ataques patronais se soma a aplicação de um duríssimo ajuste nas contas públicas dos governos, cortes nos orçamentos das áreas sociais, parcelamento e atrasos nos pagamentos de salários dos servidores, suspensão de contratações e ameaças de demissões de servidores estáveis, tendo por base a Lei de Responsabilidade Fiscal. Seguem as privatizações, tanto pelo governo federal, na Petrobras, portos, aeroportos e rodovias, como pelo PSDB. Segue existindo uma unidade entre o governo federal e a oposição burguesa quanto às medidas do ajuste, que se estendem aos estados e municípios. As MPs 664 e 665, com pequenas alterações, foram aprovadas pelo Congresso. Dilma editou a MP 680 instituindo o PPE (Plano de Proteção ao Emprego), vetou o reajuste das aposentadorias de quem recebe mais do que um salário mínimo e vetou também o aumento salarial dos servidores do judiciá- rio federal. Fruto da crise há uma ameaça de prefeitos de realizar um trancamento de estradas nacionais semelhante aos que os caminhoneiros realizaram no ano passado. O aumento da carestia é sentido pela população, em particular os mais pobres. Sobem os preços dos alimentos, das tarifas públicas – água e luz em particular – aumentam a inflação, o arrocho dos salários e o endividamento das famílias.
Vivemos um cenário de guerra social contra os trabalhadores e o povo pobre. As ações dos governos, do Congresso, dos patrões e da polícia nas periferias tem uma mesma lógica. Para a burguesia e seu estado, em momentos de crise e tensão social, são os trabalhadores e os mais pobres que devem arcar com os custos econômicos, políticos e com a repressão do Estado. Derrubar o governo não é a política preferencial da maioria da burguesia e do imperialismo, e justamente por esse motivo se produziu, nos últimos dias, uma profusão de declarações e editoriais de vários meios de comunicação e organizações empresariais, descartando a hipótese do impeachment da presidente ou a convocação de novas eleições. A crise na base aliada vinha se aprofundando. As denúncias da Lava Jato chegaram a figuras importantes do PMDB, como Renan e Cunha. O PDT chegou a anunciar a saída da base do governo. No meio disso, o setor do PMDB capitaneado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, saiu em socorro do governo e apresentou o que chamou de “agenda Brasil”, um programa de enfrentamento à crise que tem entre os seus pontos principais, algumas das principais reivindicações de grandes setores burgueses, como o agronegó- cio (flexibilização das áreas indígenas e licenças ambientais); regulamentação da terceirização; o aprofundamento da Lei de Responsabilidade Fiscal para estados e municípios; estabelecimento de idade mínima de aposentadoria; aprovação do Código Mineral; cobrança pelo uso do SUS, dentre outras. O governo e o PT saíram em defesa dessa agenda e Dilma tem procurado aparecer mais, com um discurso mais forte frente aos opositores.
As iniciativas da oposição do governismo: Nem dia 16 nem dia 20 de agosto representam os interesses dos trabalhadores. A dita oposição, com movimentos e o PSDB abertamente à frente, além do PPS e Solidariedade, realizou atos em todo o país no último domingo, dia 16. Foi a terceira jornada de manifestações esse ano e, embora menores do que os atos de março, foram manifestações significativas. Foram manifestações com perfil político e ideológico mais definido e composição social majoritariamente de classe média. As organizações que realizaram o dia 16 trabalharam melhor as convocações, incorporando vários temas de interesse da classe, como a questão do desemprego, da carestia, etc, tentando fugir do perfil “classe média indignada” das convocações anteriores. A bronca dos trabalhadores contra o governo Dilma, que é evidente nos locais de trabalho, não levou a uma ida massiva e organizada aos atos, o que nesse momento, tendo em conta o perfil e a direção dos atos, é muito progressivo.
Os atos do dia 20 representaram uma defesa do Governo Dilma. O PT assumiu diretamente a convocação dos atos do dia 20, pela televisão, não deixando margens a qualquer dúvida quanto ao caráter de apoio ao governo dessas manifestações. Setores importantes da esquerda se retiraram da manifestação, mas elas ocorreram capitaneadas pelas principais organizações de massa do país que são ligadas ao governo, além de setores da direção do PSOL, da Intersindical-Central e do MTST.
Em Recife sofremos as consequências de uma forte crise se aproximando. A rede municipal do ensino sofre com a falta de prioridade do Governo Geraldo Júlio com a educação e o sucateamento do trabalho dos professores. Há um processo de demissão em massa de trabalhadores terceirizados, seja no município ou no estado, além da recente aprovação de um Plano Municipal de Educação que se vale da meritocracia, do desmonte do caráter público da educação e retira o debate sobre gênero e sexualidade das escolas.
Para combater as medidas do ajuste fiscal e os ataques dos governos municipal ou federal e ao mesmo tempo dar uma batalha contra esse setor de direita que está tentando aparecer como a solução, precisamos construir um forte campo da classe trabalhadora e juventude. Por isso, convocamos todos/as a participar da Marcha dos trabalhadores/ as e do Encontro de Lutadores em São Paulo no dia 18 de Setembro.
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