I Encontro de Mulheres do SIMPERE é marcado pela luta contra a opressão

Durante o evento foram abordados temas como machismo, o papel da mulher na atualidade, sexualidade feminina, entre outros

“Lugar de Mulher é na Luta!”. Foi com esse tom que as professoras, aposentadas e Auxiliares de Desenvolvimento Infantil (ADIs) tornaram o dia 25 de setembro como mais um dia na luta contra a opressão. Cerca de 200 professoras lotaram o auditório da Associação Médica de Pernambuco para discutir questões do gênero Feminino, no I Encontro de Mulheres do SIMPERE.

O evento aconteceu durante todo o dia. O tema que iniciou o trabalho das mesas foi “O machismo na história e na vida das mulheres: desafios pedagógicos e do cenário nacional”. Ana Cristina, do Movimento Mulheres em Luta (MML) abriu a mesa apontando a história das mulheres trabalhadoras em uma de suas citações: “Na Grécia antiga as mulheres que desejavam participar da vida pública tinham que se submeter à prostituição, daí vem um dos significados para prostituta, mulher pública. Além disso, havia as escravas que não tinham nenhum direito”.

De acordo com a palestrante, a divisão de classe é o maior inimigo das mulheres, pois serve para oprimir determinados setores da sociedade, entre eles e, principalmente, as mulheres. No sistema capitalista não é diferente, o machismo serve para a lucratividade do patrão, “basta ver o valor dos salários entre mulheres e homens com funções iguais”, afirma Ana.

Iris Pontes, também do MML, foi a segunda palestrante da mesa e abordou o papel da mulher na atualidade. De acordo com Pontes, a função que as mulheres desempenharam na Primavera Árabe e na crise da Europa foi fundamental para os rumos destas sociedades. Ao traçar o cenário nacional, a palestrante questionou os 10 anos do governo do PT e apresentou números que mostram um aumento na diferença salarial entre homens e mulheres com a mesma função, principalmente nas grandes capitais.  “Isso vem acontecendo em um governo de trabalhadores e agora com uma mulher na presidência”, enfatizou.

A falta de creches também foi um dos elementos levantado por Iris. Os dados mostram que de 10 crianças, apenas duas têm acesso ao serviço, ou seja, oito ficam sem ter atendimento educacional infantil. A falta de creches para deixarem seus filhos seria o principal motivo das mulheres não conseguirem trabalhar ou manter o emprego.

Na parte da tarde a mesa abordou “A mulher negra e a sexualidade feminina: desafios pedagógicos”, com Elizama Messias, diretora de combate às opressões do SIMPERE, Janaina Oliveira, do Quilombo Raça e Classe, e Raíssa Bezerra, da executiva da ANEL/PE.

Na sua intervenção, Janaína fez questão de mostrar que as mulheres negras, nordestinas e lésbicas sofrem muito mais exploração e opressão. Na sua fala ela ressaltou que da escravidão no Brasil colônia para os dias atuais pouco mudou, basta ver as condições de trabalho que as mulheres negras se submetem para manter uma vida com um mínimo de dignidade.

Na sequência, Raíssa Bezerra deu a tônica na questão da orientação sexual das mulheres. “As expectativas da sociedade para suas filhas é que elas se tornem mulheres, se casem com rapazes e tenham filhos”. Segundo ela, essa normatividade heterossexual é que mantém a cultura machista e despreza qualquer tipo de orientação sexual. E é na infância que essa norma assume um papel mais cruel. “Na escolha para os brinquedos iniciamos a diferenciação na orientação. Enquanto as meninas ganham bonecas, fogãozinho, geladeira e casinha, os meninos são presenteados com carros, bolas e brinquedos. Ou seja, isso ajuda a desenvolver suas capacidades cognitivas, enquanto a mulher desenvolve sua inclinação apenas para um trabalho doméstico”, disse. Uma das indagações de Raíssa sobre as questões sexuais é a inexistência da educação sexual nas salas na sala de aula.

Elizama Messias trouxe para as participantes as questões dos desafios pedagógicos para as professoras do Recife. Para a palestrante, a falta da inserção do debate de raça e sexualidade nas salas de aulas começa na própria academia, primeiro porque na graduação não existe nenhuma orientação nos cursos de como tratar esses temas. Para piorar a situação, os livros trabalhados em salas de aula não trazem o debate, inclusive muitos deles nem refletem a realidade dos alunos.

Elizama alerta: “Para que tudo isso possa começar a mudar é necessário uma atitude das educadoras. Essa mudança representa a forma de abordar os temas em sala de aula que façam os alunos refletirem sobre as questões importantes para o gênero feminino”.

Ao final do evento foram eleitas 40 companheiras para participar do I encontro Nacional de Mulheres em Luta da CSP-CONLUTAS. Esse encontro será realizado em Minas Gerais, nos dias 4,5 e 6 de outubro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

sete − cinco =