Chuvas, Deslizamentos de Barreiras e Mortes em Recife: O que é NATURAL e o que é SOCIAL?!!

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Hoje, 31 de maio de 2017, mais uma vez, estou extremamente triste pelo fato de ter tomado conhecimento, através dos meios de comunicação televisivos, da morte de duas pessoas (um jovem de 14 anos e uma senhora de 37 anos), no bairro de Dois Unidos, Recife, Pernambuco, “em virtude das fortes chuvas”(discurso construído para explicar as mortes ocorridas em situação de fortes chuvas e, que deve ser minunciosamente analisado).

As duas pessoas faleceram em meu bairro, onde nasci, cresci e até hoje ainda moro. Antes de continuar a discorrer sobre as mortes citadas, permitam-me falar de mim (brevemente), que morei em simples casa, desde que nasci até os 14 anos de idade, localizada em uma ENCOSTA, ou, popularmente chamada de “barreira”.

Desde criança, à medida que ia tomando consciência, passei a conviver com o MEDO DE MORRER em todas as épocas de chuvas em Recife. Todos os anos, no inverno, eu, minha irmã, meu irmão, minha querida mãe e meu querido pai, dormíamos menos, muito pouco!! Você deve perguntar: por quê? Respondo: MEDO DE MORRER!!! Lembro muito bem o que aconteceu a minha família quando eu tinha mais ou menos 12 anos de idade (em 1992, se não me engano). Numa noite de chuva, em pleno inverno, enquanto dormíamos (ou pelo menos, tentávamos dormir, pois o MEDO DE MORRER era grande e tirava o sono!), a ENCOSTA (ou barreira) DESLIZOU e atingiu, com muita intensidade, a parede do quarto onde eu e meu irmão dormíamos miseravelmente!! Escapamos por pouco!! Os “espelhos” das camas onde dormíamos seguraram, como mãos protetoras, a parede atingida e nos salvaram!! Se não fosse isso, hoje eu não estaria aqui expressando minha indignação pelas mortes ocorridas em Recife, nesta data e, clamando por JUSTIÇA SOCIAL.

Voltando a falar das mortes, ocorridas em Recife hoje, é importante fazermos algumas perguntas. Por que duas pessoas morreram na presente data em Recife, como se diz “em virtude das chuvas”? Por que elas moravam próximo de uma ou numa encosta? O que o Poder Executivo, da Cidade do Recife, fez pra proteger as pessoas que morreram? Por que a encosta que as atingiu e as “vitimou” fatalmente não estava impermeabilizada com uma obra de contenção?!! Por que quase não se constroem mais barreiras (como popularmente de diz para se referir a contenção e impermeabilização das encostas com obras de concreto), mas SÓ SE COLOCA MISERÁVEIS LONAS NAS ENCOSTAS do RECIFE?!! O que dizer da afirmação que recomenda mais ou menos o seguinte: “em dias de fortes chuvas, com situação de perigo, deixem suas casas e dirijam-se para a casa de parentes, amigos, onde possam sentir segurança”?!! Quem afirma isso, sabe o que esta frase significa para as pessoas que moram nas encostas?!! Sabe do amor que essas pessoas têm por suas casas, construídas ali (único lugar encontrado por elas!), com tanto esforço e suor?!!

As mortes ocorridas hoje, em Recife, não se deram em virtude “das fortes chuvas e da consequente queda de uma barreira”! Não! Essa não é uma explicação aceitável, por sinal, muito frágil e insustentável face a um pensamento crítico! É preciso que se diga que: as pessoas que morreram sofreram um processo de SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL materializado na cidade do Recife; que as miseráveis lonas plásticas não são totalmente seguras ou não são seguras para as famílias; que as políticas públicas de prevenção de deslizamentos de encostas e de habitação do Recife, destinadas às pessoas de condição socioeconômica baixa, não estão conseguindo evitar as mortes por deslizamentos de encostas!!!

Bem, para mim, que escapei por pouco da morte, após a queda de uma barreira em Recife, registro aqui, meus sentimentos sinceros aos familiares e amigos que se encontram tristes por terem perdido, de forma tão dramática e dolorosa, MIRIAM PEREIRA (37 anos de idade) e DEIVISON (14 anos de idade) e, clamo por JUSTIÇA SOCIAL.

Miriam e Deivison: PRESENTES!!!

Bem, por ultimo, ficarei imensamente feliz, se você conseguir compartilhar essa reflexão nos mais diferentes meios de comunicação, com o maior número de pessoas possível.

Seguirei caminhando pelos caminhos da Justiça Social!

Recife, 31 de maio de 2017.

Claudemir Sales

Residente na Cidade do Recife

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E-mail: justicaamorepaz@gmail.com

Foto: Laís Leon/Esp. DP

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