Na França, levante popular contra Reforma da Previdência resiste há quase dois meses

Na França, levante popular contra Reforma da Previdência resiste há quase dois meses

Por CSP Conlutas

 

Com a participação de trabalhadores de diversas categorias, mobilização ganha permanência com greves que são realizadas uma em seguida da outra

 

Perto de completar dois meses de greve, a França continua a ser cenário de massivas manifestações contra a Reforma da Previdência do governo de Emmanuel Macron.

Na última quarta-feira (29), movimentos sociais, trabalhadores e centrais sindicais realizaram mais um grande protesto por todo o país. É a oitava vez que os franceses promovem um dia nacional de luta com forte adesão popular, tornando esse processo de revolta um dos mais longas da história recente da França.

Trabalhadores dos setores da educação, saúde, justiça, cultura, transportes, de energia, indústria fortalecem a mobilização.

Firmes na luta – Se o governo ainda amarga, depois de um ano, o desgaste político causado pela intensa revolta dos Coletes Amarelos, pelo que parece, as novas lutas na França não devem arrefecer.

Desde 5 de dezembro de 2019, data de Greve Geral no país, atos são realizados constantemente, além de paralisações importantes que variam de duração em diversos setores.

Os trabalhadores em transportes mantiveram dura luta por direitos e contra a reforma da previdência. Em seguida, outras categorias emendaram com forte mobilização, como os estudantes, de setores ligados ao abastecimento de combustíveis, caminhoneiros, profissionais da educação, advogados, médicos e de energia. Desse último, os trabalhadores chegaram a realizar apagões de eletricidade em várias cidades e prometem paralisar os serviços caso o governo mantenha a intransigência diante das reivindicações populares.

Alguns patrimônios culturais de extrema importância para o turismo, como o Museu do Louvre e a Ópera de Paris, por exemplo, também aderiram ao chamado de greve e também ocasionaram forte impacto nesse processo de levante.

Lutar até a vitória – A União Sindical Solidaires, membro da França que compõe a Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas, tem reforçado constantemente o chamado para as mobilizações e assembleias diárias nos diferentes segmentos de trabalhadores dispostos a lutar contra o projeto de reforma de Macron.

Para a entidade, pequenos recuos do governo referentes ao projeto de reforma não significam nenhum avanço da reivindicação das trabalhadores e trabalhadores. “A pseudo retirada da idade mínima anunciada é uma prova concreta de que a força de nosso movimento pode levar o governo a recuar mais”. Para a Soldaires, garantir novos dias de lutas é fundamental, “pois somente com a mobilização contínua será possível obter a retirada total da reforma previdenciária”, avalia.

Outra Greve Geral deve acontecer no mês de fevereiro. Na internet, movimentos organizam um site que funciona como uma espécie de cartografia das lutas [ACESSE AQUI], de construção coletiva, que reúne os principais atos e locais em que a mobilização é organizada por todo o país, dividido por categorias.

Bombeiros em luta – Na última terça-feira (28), houve também protesto com a participação de bombeiros contra a reforma da Previdência e por melhores condições de trabalho. A categoria também reivindica aumento no bônus por periculosidade, cujo valor (19% do salário) está congelado desde o ano de 1990, para 28% do salário.

Com a reforma previdenciária e a universalização de todas as categorias, os bombeiros também passariam a se aposentar aos 65 anos, e não mais aos 57, como é atualmente.

Enfrentamento à repressão policial – Nas manifestações que ocorreram em diversas cidades do país na terça-feira (28), policiais lançaram gás lacrimogêneo, jatos de água e atingiram muitos manifestantes com golpes com cassetetes.

Os bombeiros responderam firmemente aos ataques. Registros em vídeo dos protestos mostram como a polícia foi impedida pelos bombeiros de avançar contra a população.

Em outubro de 2019, os bombeiros de Paris já haviam feito uma manifestação pedindo melhores salários, garantias para suas aposentadorias e maior respeito pela profissão. Em grande ato realizado em 17 de dezembro, a categoria também aderiu às mobilizações.

Os bombeiros foram em maioria aos atos utilizando seus uniformes de trabalho, contrariando a proibição das autoridades que não permitiram o uso das vestes. Mas foi graças aos capacetes e as roupas à prova de fogo que muitos deles não foram feridos pela repressão policial.

Alguns bombeiros chegaram a atear fogo em si mesmos de maneria controlada como forma de protesto. Cerca de 300 deles avançaram por uma avenida, alterando o trajeto permitido pela polícia.

Muitos deles estavam com os rostos pintados como o personagem de Joaquin Phoenix, no filme Coringa. No filme homônimo, em uma das cenas a população se insurge nas ruas de Gotham City contra o sistema injusto, desigual, capitalista.

Um dos principais palcos das manifestações que ocorreram na capital francesa foi a Place de la République. Neste local, os bombeiros também entraram em confronto direto com a polícia e subiram na famosa estátua da Praça, em imagem que muito se assemelha à tomada dos manifestantes chilenos na antiga Praça Itália, rebatizada de Praça da Dignidade em meios aos protestos contra o governo de Piñera.

 

A cólera dos trabalhadores franceses em defesa das reivindicações sociais não deve perder força. E o levante também não deve perder apoio. A maioria da população permanece contrária ao projeto de reforma previdenciária e concorda com a mobilização das organizações e dos ativistas em luta. Pesquisas apontam que 55% da população são contra a reforma de Macron.

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